sexta-feira, 3 de junho de 2016

A história familiar




A história familiar só é possível quando podemos saber de onde viemos, ou seja, que famílias existiam em tempos atrás e quem se uniu com quem até surgir a geração atual. É claro que existe uma forma fácil de sabermos um pouco mais sobre os nossos antepassados; são as histórias contadas pelos nossos avós ou parentes mais antigos; porém, existe uma ciência para fazer isso, obviamente com maior certeza e rigor: a Genealogia.
A palavra vem da língua grega Gene (geração, família) e logos (conhecimento, estudo); sua contribuição para o conhecimento histórico está na organização das famílias e linhagens. Em tempos passados, a Genealogia era muito importante na comprovação da hereditariedade no momento da divisão da herança entre os herdeiros que não eram tão conhecidos, ou então em traçar a linha sucessória na monarquia. Mas não é somente isso; a genealogia servia também para definir o status social; pelo menos aqui no Brasil era assim. Controlando a posição dos indivíduos por meio dos seus respectivos sobrenomes, a sociedade Luso-brasileira era tacitamente excludente; assim por exemplo, para assumir o oficialato no Exército era necessário possuir algum peso social no sobrenome; o mesmo acontecia para quem desejasse cursar a faculdade ou ser um cônego. As coisas realmente não eram nada fáceis para os que não possuíam ascendência nobre. 

Como surgiram os Sobrenomes?

Os sobrenomes não existiram sempre; até a Idade Média, era muito mais comum o uso apenas do primeiro nome; porém com o aumento populacional, isto já no início da modernidade, as migrações e a mistura entre povos, foi surgindo naturalmente a necessidade de acrescentar mais um nome ao que já existia; caso contrário, chegaria um momento em que haveria confusão na identificação das pessoas. Mas como acrescentar um novo nome? Pois bem, a solução, pelo o que se pode perceber foi bem natural e simples: os sobrenomes vieram dos pais (os nomes patronímicos, por exemplo: MacDonald - "filho de Donald", Andersen - "filho de Ander", Esteves - "filho de Estevão") do ofício que realizava (ex: Ferreira) do local de origem (ex: Lago, Monte Alto, dos Campos); havia também os sobrenomes inspirados em motivos religiosos (Trindade, Batista, dos Santos), e características familiares (Nobre, Leal, Gentili) os exemplos se multiplicam e seguem a mesma lógica nas outras línguas. Cada vez mais a adoção de um sobrenome foi se tornando essencial para a identificação individual; isto se torna óbvio quando pensamos no aumento da população mundial e nos avanços da tecnologia e da segurança de informação. Ou seja, se o sobrenome não existisse ainda..., certamente teria que ser inventado!

Quando o sobrenome vem primeiro

Ao que parece, quem primeiro teve a idéia de introduzir o sobrenome foram os chineses do império Fushi em 2852 a.C. nesta época é claro, todos no Ocidente tinham apenas um único nome. Quem era João era somente João e pronto! Na China, usava-se 3 nomes: o primeiro era o sobrenome que tinha que ser retirado do poema sagrado Po-Chia-Hsing, daí vinha o nome da família que por sua vez era retirado de um outro poema que continha 30 personagens; a família tinha que escolher um personagem; o nome próprio vinha no final.

Na Roma antiga

Em Roma, quem tinha nome, poderia ter prenome, nome familiar e até nome que celebrasse um ato ilustre. Interessante não? e também estranho? Pois bem, o praenomen (Prae- antes de.  Nomen - nome) em Roma era o que hoje conhecemos por nome próprio; como acontece nos dias atuais, eram os pais que escolhiam o praenomen e somente a família chamava a pessoa pelo praenomen. A maioria das mulheres não tinham praenomen; elas recebiam o nome coincidente com o da sua família; assim por exemplo as meninas da família Cornélia sempre chamavam Cornélia sendo que eram-lhes atribuídas um cognome correspondente a um numeral (prima, secunda, tercia ...) para que houvesse a distinção de uma pessoa para outra. 
O cognome era o terceiro nome do cidadão romano e era por ele que o conheciam; assim o nome de César completo era Caio Julio César sendo que "Caio" era praenomen e "Julio" o nome gentílico a qual ele pertencia (a gens Júlia) e "Cesar" o cognome (veja o Focográfico abaixo):


O cognome servia também para distinguir uma família específica dentro da própria gens. Era passado de pai para filho. Como o cognome é na verdade uma alcunha, era baseado numa característica pessoal. Assim se por exemplo João era um indivíduo de baixa estatura, recebia a alcunha de pequeno ficando "João Pequeno". Ocorria também o inverso como no caso de César: ele era calvo e César quer dizer "peludo"
O Agonome era um segundo cognome e servia como uma forma de distinguir um indivíduo na mesma família formando assim um subgrupo familiar. Havia casos em que o agonome era utilizado para resaltar um grande feito. É o caso de Cipião Africano que teve o nome de nascimento Públio Cornélio Cipião e depois que venceu Aníbal na África tornou-se Cipião Africano; "Africano" serve para marcar a sua vitória contra o general cartaginês.
As mulheres romanas recebiam o nome dos pais no gênero feminino. A filha de Caio Júlio César seria chamada de Júlia Césaris (sufixo "is" para dizer que era filha de César) e se ele tivesse mais uma filha, à mais velha seria acrescentado um terceiro nome: "Maior" e à mais nova: "Minor" (menor) ficando então, Júlia Césaris Minor.


Focou ???

Fúlvio Garcia